“Amar alguém que só vê o próprio reflexo é se perder tentando ser visto.”
Ao longo da minha trajetória como terapeuta, acompanhei centenas de histórias dolorosas que se desenrolaram ao lado de pessoas com transtorno de personalidade narcisista. Cada uma delas revelou o mesmo cenário: um ciclo contínuo de sofrimento, manipulação e destruição silenciosa.
O transtorno narcisista não apenas consome quem o carrega — ele envenena todos ao redor.
Muitos acreditam que o narcisista pode mudar com amor, paciência ou com as circunstâncias certas. No entanto, quem sofre desse transtorno não transforma sua essência. Pode até aprender a se portar em público, ser pontual, seguir regras sociais… mas a empatia, o cuidado genuíno, a responsabilidade emocional, esses sentimentos não nascem da imposição externa.
“Você pode ensinar um narcisista a usar um relógio, mas jamais a sentir o seu sofrimento.”
O rastro de destruição invisível
Narcisistas percorrem a vida tratando pessoas como meros instrumentos para atingir seus próprios objetivos. Eles são descuidados — mas um descuido intencional e cruel, onde o único valor é o que o outro pode proporcionar.
Quando destroem relações, famílias, carreiras ou sonhos, eles simplesmente esperam que a bagunça seja limpa por quem ficou. Sem culpa. Sem arrependimento. Sem olhar para trás.
A armadilha da esperança
Nos relacionamentos com narcisistas, existe sempre a ilusão: “Um dia ele(a) vai mudar.”
Essa esperança é o fio que prende tantas pessoas a ciclos abusivos. Porém, a realidade é dura:
“O que você enxerga hoje é exatamente o que existe. Não espere milagres.”
Diante disso, surgem duas escolhas possíveis: ficar ou ir.
E não existe certo ou errado aqui. A vida é complexa, e cada um tem seu próprio tempo. Ficar pode ser uma escolha consciente — se for com preparo e ferramentas adequadas. Ir embora também é uma escolha legítima — e muitas vezes, a mais segura.
Nem todos os narcisistas são iguais
Existem várias formas que o narcisismo pode assumir. Alguns são frios e calculistas; outros sedutores e encantadores. Alguns parecem frágeis, eternas vítimas da vida. Cada um, à sua maneira, manipula, confunde e aprisiona.
Reconhecer os padrões é essencial para conseguir se proteger — seja para fazer uma saída segura, seja para tornar o convívio menos destrutivo.
Narcisismo, violência e abuso
As dinâmicas narcisistas frequentemente estão presentes em relações de violência doméstica.
Controle, negligência emocional, manipulação, ameaças veladas.
Gritos, objetos lançados contra a parede, portas batidas com violência… a violência emocional e física é real, mesmo quando não deixa marcas visíveis.
Se você vive em uma situação onde sente medo, ou onde crianças estão expostas, sua segurança precisa ser prioridade. Procure ajuda imediatamente.
“O abuso nem sempre vem com gritos. Às vezes, ele chega com o silêncio que te afasta de você mesma(o).”
Codependência: quando o amor adoece
A codependência é a cola invisível que prende tantos a relações abusivas.
Quando você permanece em um relacionamento tóxico, mesmo sofrendo, é como dizer, sem palavras: “Eu aceito ser tratado(a) assim.”
Entender e curar a origem dessa dependência afetiva é fundamental para que a libertação seja completa — não apenas física, mas também emocional e psíquica.
A dificuldade em julgar quem fica
É muito fácil para quem está de fora perguntar: “Por que você não vai embora?”
Mas quem vive dentro sabe: existe amor, esperança, medo, vergonha e, principalmente, uma história que poucos compreendem.
Ninguém sabe suas feridas. Ninguém viveu o que você viveu.
“A dor que você esconde carrega mais verdade do que o julgamento dos outros.”
A terapia como caminho de cura
Na terapia, você encontra um espaço seguro para compreender o que aconteceu — e o que ainda está acontecendo.
É nesse espaço que você vai resgatar sua autoestima, aprender a reconhecer os sinais de abuso e, principalmente, reconstruir sua capacidade de amar e ser amado(a) de forma saudável.
“Você merece um amor que não exija que você se apague para existir.”
Lilian Lima
Psicóloga